Sunday, June 18, 2006

A Morte das -cracias, -arquias e -ismos

Final de semana prolongado: jogo do Brasil, feriado e mais jogo. Tudo parece perfeito para relaxar, esquecer os problemas do mundo, do trabalho, da família, da política, de falta de dinheiro, de amor... nossa, quantas possibilidades de problemas um ser humano tem num dia. Para esquecer os problemas da política, GOOOOOL! Para esquecer os problemas de falta de dinheiro, SEXO! Para esquecer os problemas de falta de sexo, hibernação pré-inverno; pra esquecer os problemas de família, álcool. Para esquecer os problemas de alcoolismo...
Eu sempre fui anarquista. Nada daquelas demagogias punk ou alguma pseudo-esquerda pseudo-libertária, bom, nada pseudo. Apesar de utópico, tenho plena convicção que o ser humano é capaz de governar a si próprio, e na verdade não o faz simplesmente por preguiça. Quem achar que eu sou retardada e que "inventei essa moda" recomendo a leitura de Desobediência Civil. Mas enfim, às vezes eu me questiono sobre minhas convicções, também. Fiquei pensando neste domingo sobre a diferença entre autoritarismo e anarquismo, e cheguei a seguinte conclusão: anarquismo é quando ninguém manda e todo mundo faz, autoritarismo é quando um manda e só os outros fazem. O engraçado é que os dois regimes são tão completamente diferentes, mas a diferença é na verdade muito pequena, um detalhe. Digamos que no anarquismo é definido de comum acordo os deveres e direitos de cada, e todos seguem isso espontaneamente. Se um indivíduo não seguir, torna-se autoritarismo. Ora, ele participou do processo de decisão, mas não assume suas responsabilidades efetivamente, logo, ele torna-se um ditador de seu "mini-mundo".
Muitas vezes isso pode ser observado nas menores células sociais: a família. Quando os filhos são pequenos, é mais ou menos uma ditatura, e às vezes uma democracia. Pais mais conservadores seguem a linha napoleônica, enquanto pais mais liberais são mais Gabeira, mas no final, as decisões são feitas pelos pais uma vez que têm mais discernimento e experiência [ou não?? tsk tsk...] À medida que os filhos crescem, as negociações começam a nivelar-se, e pude observar em famílias onde os filhos adultos moram com os pais que o regime torna-se uma anarquia: as liberdades individuais são respeitadas bem como o bem comum requer deveres coletivos. Mas isso deve ser natural. E acontece que não é. Pais autoritários e filhos frustrados, conflitos de gerações e rancores, tornam essas sociedades insuportáveis. Daí temos as famílias de aparências, mina-se a confiança e esvazia-se o poder "político" de cada cidadão livre dessa sociedade.
Ah, mas famílias sempre serão problemáticas e disfuncionais. Possivelmente. Acontece que dessas células sociais nascem as cidades, estados e países, e todas essas células juntas, agindo em comum egoísmo e usufruindo do ópio de um final de semana para esquecer, temos o coletivo social confortably numb, que no orgasmático gol lava a dor dos problemas da vida.
As vezes eu questiono minhas crenças...

"É melhor ser um líder temido do que ser um líder amado" - O Príncipe, Maquiavel.


1 comment:

FranciscoLucas said...

"Apesar de utópico, tenho plena convicção que o ser humano é capaz de governar a si próprio, e na verdade não o faz simplesmente por preguiça"

equixatamente isso!