Thursday, July 19, 2007

Caça às Bruxas x Assombrações Burrocráticas


Ou, na verdade, este post nem deveria ter título. Talvez nem devesse ser escrito, já que nenhuma palavra minimizará a dor das pessoas que perderam família e amigos abruptamente na última terça-feira.
As palavras demagogas de nosso goof-president é que com certeza não servem de nada, eu me pergunto de que adiantam palavras como "consternado", "indignado", "horrorizado" esta hora?

Mas a única coisa que eu tenho são palavras, assim como os cidadãos e a mídia, e tenho certeza que gostaríamos que nossas palavras fosse pedras arremessadas nas cabeças dos governantes irresponsáveis e procrastinadores.
Eu gostaria que minhas palavras fossem ácido jogado na cara de irresponsáveis cara-de-pau que agora saem, como sempre, numa caça às bruxas, numa sangria desatada, a buscar "os culpados" por um incidente tão triste.

INcidente, não ACidente, já que todo mundo sabe que não foi um acaso, todo mundo sabe quem são os culpados. Menos eles.

Há três semanas, minha avó morreu. Teve um infarto, foi para o hospital, foi operada, mas teve outro infarto depois e não resistiu. Ela era relativamente saudável, apesar dos seus 77 anos. Fiquei triste, chorei com minha família, mas acho que vejo a morte de maneira natural, tento não me abalar, já que ninguém escapa mesmo. Não havia quem culpar, em nossa busca muito humana, subconsciente e incontrolável por um motivo, uma explicação que satisfaça o vazio de nossa perda.

Agora, num acidente de avião onde uma série de erros humanos, em todos os níveis hierárquicos da administração pública e da prestação de serviço privado - desde os já-que-demais-sabidos descasos do governo federal, o the-ball-is-in-your-court entre a aeronáutica militar e a civil e o governo, a empresa aérea usar um avião grande demais para uma pista pequena demais... é, a lista jamais acabaria, assim como não há fim para todos nós paulistanos - e brasileiros e seres humanos neste planeta - buscar, sem êxito, uma explicação. É irracional, é estúpido, e o pior, há pressa para encontrar culpados, e morosidade para resolver o problema.

Burrocrático, o governo é completamente incapaz de fazer qualquer coisa. Não qualquer coisa sozinho, mas digo, qualquer coisa. Aí vocês vão esperar ansiosamente eu dizer "Anarco-capitalismo": ah, pois é, se investimento privado fosse aceito para todas as obras de infraestrutura que o governo brasileiro não é capaz de fazer, possivelmente esse acidente nem teria acontecido. Agora, comenta-se parcerias público-privadas para licitações que serão abertas em outubro ou novembro, mas e até lá? Os fantasmas dos 186 corpos irão puxar o pé do Lula? Enquanto discursos inflamados de leitores de contra-capa de Karl Marx continuarem sendo o estandarte de governo populista deste país, o desenvolvimento será apenas uma alucinação translúcida de um boêmio qualquer.

Se eu pudesse entrevistar a Ministra do Turismo neste momento, faria a seguinte pergunta:

"Marta, e agora? As viúvas dos passageiros vão relaxar e gozar com quem, exatamente?"

*sigh*