Wednesday, October 24, 2007

Dois Pesos, Duas Medidas


Hoje de manhã li no jornal que 65% da população que usa drogas é de classe média e alta, não sei quantos são filhinhos de papai, e a maioria é branca. Também dizia que o consumidor médio gasta em torno de R$ 45 por mês.
Sentei, fiquei pensando o que isso significa. Primeiro, que pobre sabe gastar dinheiro em coisas que não são droga. Eles têm reais necessidades e não gastam dinheiro com supérfluos (ou lazer, mas isso é outra história).
Além disso, prova que drogas no Brasil são é muito baratas mesmo. R$ 45 por mês?! Se eu quiser ir no cinema duas vezes por mês gastarei mais que isso. Se eu quiser jantar fora um vez, gastarei mais que isso. O que eu entendo com essa estatística? Não existe lazer de qualidade a preço baixo no Brasil.
Ah, mas é a classe alta que usa drogas! Sim, mas rico é muquirana! Oras, por que qualquer pessoa vai querer gastar R$ 1.500 numa balada - como a Veja São Paulo tão ilustradamente mostrou na edição do último domingo, se com R$ 5 pode fazer uma sessão de relaxamento mental com um baseado? Lógico que, como a Veja também mostrou, quem gasta gosta de gastar muito, e honestamente, acho o dado de R$ 45/ mês incorreto.
Mas o que mais me incomodou na reportagem não foram as estatísticas bizarras, e sim, a manchete, "tropa de elite - jovens brancos e ricos financiam o tráfico. Aí tem esse filme ridículo querendo bancar de falso moralista acusando a classe média (que não existe no Brasil, mas aí é só ler meus posts antigos para entender) de sustentar o mundo das drogas, que as mortes na favela acontecem por causa deles. Não. As mortes nas favelas acontecem por causa dos traficantes. Apregoar isso é ridículo, é fazer do bandido coitadinho, "empurrado para o mundo do tráfico porque é dinheiro fácil". Não é fácil e ele sabem muito bem onde está se metendo, mas como o futuro é pior ainda para alguém sem educação, melhor correr o risco. Dizer que é culpa do usuário é o mesmo que pensar há 30 anos atrás que a Pepsi bombardearia o prédio da Coca-Cola para conseguir seus consumidores, ou que Steve Jobs matararia Bill Gates porque o Windows se tornou a plataforma mais lucrativa com o uso do PC, e o pior, que os consumidores causaram isso!
Só no Brasil o cara que paga a puta é que tá errado, afinal, a coitadinha foi "forçada" a isso. Aí, meus caros, a culpa é...
sim...
do...
GOVERNO!
Não são eles que devem investir em infraestrutura? Não são eles que devem investir em educação?
E quem é para julgar se a mulher quer vender o corpo? Se paga melhor que outros trabalhos que ela não está disposta a fazer, a responsabilidade é dela. Isso é um falso moralismo! Aliás, também diz a reportagem que mais de 80% dos usuários de drogas é católico - ahhh, os católicos "não-praticantes". Mas que raios é isso? É como fingir tomar banho, entrar embaixo da água e não usar sabão?
É falso moralismo meter o pau nas drogas, porque se fossem ruins ninguém usava, e infelizmente terei que usar o chavão "tudo em excesso faz mal" para dizer que a única coisa que difere a cocaína da coca-cola, o chocolate da maconha, o ecstasy do Prozac são os valores moralistas da nossa sociedade.
Tribos indígenas e outras culturas usam drogas nas mais variadas formas, mas nesta sociedade pseudo-cristã onde tudo é pecado e tudo é proibido foi decidido que algumas coisas eram errado e outras eram certas. Não consigo aceitar as banquinhas de Marlboro no supermercado como um cassino de drogas legais. Legais como?
"Ah, então ou proíbe tudo ou libera tudo!" - Não preciso dizer qual minha opinião. Se proibições resolvessem, os 10 mandamentos teriam consertado o planeta.
Até quando o ser humano será hipócrita de pôr a culpa nos outros por suas próprias fraquezas? Por que não aceitar o que somos e vivem sendo honestos com nós mesmos?
Todos temos vícios, mas o que mata na favela é a hipocrisia.