Saturday, April 21, 2007

Eu não tenho nada!


Aconteceu uma coisa no mínimo bizarra comigo na quarta-feira passada. Estava indo dar aula e como havia chegado um pouco mais cedo, acabei aproveitando o tempo extra para arrumar os materiais - livros, papelada, etc., - e pensando no lixo que forrava o chão atrás dos bancos. De repente, pára um motoqueiro do lado do carro e pergunta, "Ei, que rua é essa?" - eu respondo o nome da rua. Ele, "então, falando sério, passa a bolsa, o celular, o dinheiro!" - eu, "que?? porra cara eu num tenho bolsa, nem celular e muito menos dinheiro! EU NUM TENHO NADA!! Olha isso aqui!! OLHA O MEU CARRO!!"
Ele parou, olhou para o mar de lixo atrás, o caos de livros amontoados em meio a blusas e até um ziploc, do lado de fora, o carro como sempre sujo [que eu não lavo há uns 2 anos] e lógicamente batido. Ele olha pra mim e diz, "ah, era brincadeira!", e vai embora.
Aí a ficha caiu: putzgrilla! tentaram me assaltar! Fiquei indignada. Como assim?? tentar ME assaltar?? Pra roubar o que?? Ah, sim, deve ser minha cara de patricinha e meu carro novo, ou péra, não, importado? Ou talvez minha luis vuitton me entregou. Que patético, só posso concluir que ele deveria estar treinando pra ser ladrão, porque nunca vi uma ação tão péssima. Pra minha sorte. Mas não consigo esquecer as palavras do cara, "então, falando sério..." como se isso fosse me intimidar.
Deve ser fácil intimidar quem tem o que perder, mas como intimidar alguém que passa a semana estressada com o filho, com o trânsito, com trabalho, com a avalanche de problemas da vida real que mal me permitem ter tempo para tomar banho, comer e dormir. Ah... mas e se ele estivesse armado??
Bom, nos poucos minutos que conversamos, fiquei pensando, bom, meu celular tá aqui, mas ele tem seguro, mas eu iria avisar que ia tirar o chip, afinal, não serve pra nada... na verdade, tem um risco no visor, pensando agora eu deveria ter é dado, ia ganhar um novo... ou agora alguém da cia. telefônica lê isso e toda a confiança no cliente está posta em perigo... pensei, pensei, tenho apenas 2 reais na carteira, e putz, não quero perder os documentos... bolsa, ah, bolsa eu num tenho mesmo, só a mochila e se esse filha da puta me levar os livros eu vou mandar ele vender droga na esquina porque pelo menos é um crime mais honrado do que roubar mulher sozinha. Que trouxa, vou ficando com raiva e me torno mais mesquinha, como ele OUSOU tentar me assaltar?!
Mas quando percebi ele já tinha sumido com sua moto, e eu saí do carro.
Ao ficar de pé, as pernas bambas, pensei, "que bosta" - engoli o susto e fui trabalhar.
Comentei com o segurança da escola, "caramba, quase fui assaltada!", ele, "ah, aqui nunca passa polícia mesmo..." num suspiro.

Essas horas, me orgulho de ser anarco-capitalista: o governo não faz nada pra mim, e eu ainda tenho que me livrar de ladrôes covardes. Bom, ladrões covardes dentro e fora dos prédios governamentais.